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Por João Pedrosa
Você já se perguntou como deve ser desafiador precisar convencer os outros sobre a importância da sua profissão? Ouvir perguntas como “para que serve o que você estudou na faculdade?” ou afirmações como “seu trabalho não é necessário aqui”? Os primeiros passos de todo o caminho que permitiu o surgimento da Fono com Amor foram assim: árduos. Estamos falando do início dos anos 2000, de João Pessoa, da Paraíba. Um tempo no qual pouco se ouvia falar de fonoaudiólogos e que não se sabia exatamente o que faziam, onde trabalhavam e quais os benefícios que as terapias ofereciam aos pacientes.
Foi neste contexto que Tatianna Wanderley, hoje proprietária e diretora clínica da Fono com Amor, se formou na primeira turma de fonoaudiologia da Paraíba, em 2001. Na época, elaborava projetos que explicavam, passo a passo, para que servia a sua profissão e porque as instituições deveriam contratá-la. “Quando me formei havia apenas 14 fonoaudiólogos em toda a Paraíba”, recordou.
Dessa forma insistente, iniciou a sua trilha do sucesso e encontrou junto às pessoas com deficiência uma realidade que fazia seu coração pulsar da forma alegre e amorosa. Aos mais próximos, a identificação com esses pacientes não parecia uma novidade já que seu pai, dentista aposentado, também dedicou parte de sua vida a cuidar de pacientes com síndrome de down, transtorno do espectro do autismo e deficiências físicas e intelectuais. “Tinha um consultório particular e era muito comum meus filhos irem para lá depois das aulas. Fazia parte da rotina deles conhecer as pessoas e as famílias das pessoas com deficiência. Esta relação dos meus filhos com este universo sempre foi construída com muita naturalidade, como deve e precisa ser”, disse João Wanderley, pai da fonoaudióloga.
Apesar da Tatianna ter começado a atuar na fonoaudiologia logo após se formar e, dai por diante, nunca ter parado, sempre se dedicou ao aperfeiçoamento através dos estudos. Por vários anos esteve como fonoaudióloga na Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae), em João Pessoa, e atuado em escolas e clínicas. Contudo em sua mente a dedicação à fonoaudiologia permaneceu atrelada à necessidade de especializar o seu ofício. O currículo repleto de pós-graduações em áreas como linguagem e motricidade oral, além de diversas qualificações profissionais, revelam seu esforço.
Foi então que experiente e com o sonho de levar o seu trabalho para mais pessoas, resolveu dar um passo ousado: montar a sua própria clínica infantil integrada. Contou com a parceria do seu esposo, Jeferson Fonteles, que acreditou na ideia de Tatianna e, juntos, ela como diretora clínica e ele como diretor administrativo, iniciaram a construção de um sonho: a Fono com Amor.
Olhar afetuoso para o Autismo
Embora os primeiros tijolos sequer tivessem sido colocados, a missão da clínica já era clara para Tatianna e Jeferson: prestar assistência a crianças com atraso de desenvolvimento e contribuir na qualidade de vida delas e de seus familiares. “Nossa clínica está de braços abertos a todas as crianças, contudo, definimos que nosso público principal seriam as crianças que apresentam o transtorno do espectro do autismo com o intuito de oferecer tratamentos cada vez mais especializados”, esclareceu Jeferson.
Nesse sentido, a experiência da fonoaudióloga apontava que a melhor forma de atingir este objetivo seria através de um cuidado transdisciplinar. “Desde o início tudo foi estruturado para que nossa equipe já iniciasse o trabalho de forma harmônica, envolvendo os diversos profissionais que desempenham papel fundamental no processo de desenvolvimento das crianças”, explicou Tatianna.
Ambos estavam certos. Apesar de haver na cidade de João Pessoa tratamentos para crianças com autismo e apraxia da fala, um local especializado e com terapias integradas tornou-se um diferencial na capital. A primeira unidade da Fono com Amor, chamada Águia, foi inaugurada em agosto de 2018 e em pouco tempo já contava com terapias nas áreas de psicomotricidade, fonoaudiologia, nutrição, terapia ocupacional, musicoterapia, psicopedagogia, natação e psicologia. Além disso, foram implementadas na clínica a oferta de serviços terapêuticos baseados no modelo Denver de intervenção precoce, assim como terapias do modelo ABA.
Com a rota definida e sempre buscando acolher os pacientes que procuravam os serviços da clínica, a Fono com Amor não parou de crescer. Em julho de 2019 foi inaugurada a segunda unidade, a terceira em fevereiro de 2020, a quarta em outubro de 2020 e a quinta, desta vez na cidade de Campina Grande, em fevereiro de 2021. “Nossa expectativa é sermos referência em todo Nordeste no acompanhamento responsável e inclusivo de crianças com atraso de desenvolvimento, especialmente de crianças com o transtorno do espectro do autismo”, disse Jeferson.
A transformação das famílias
Para que o desenvolvimento infantil seja conduzido da melhor forma, é necessário que haja uma interação repleta de diálogo entre os profissionais que realizam as terapias, a escola da qual a criança faz parte e a família. Por meio dessa partilha torna-se possível definir percursos, identificar as principais dificuldades e desenvolver as potencialidades das pessoas com deficiência.
Roberta Serrano, mãe de uma das crianças que realiza terapias na Fono com Amor, o Gustavo, reforça como esta relação estreita contribuiu para o desenvolvimento do seu filho. “Quando iniciou, aos 2 anos, não falava nada, não fazia contato visual e era muito disperso. Depois de 4 anos de terapia estamos colhendo os frutos dessa intervenção precoce. Ele começou a conversar esse ano e melhorou muito a dicção. Já está interagindo com professores e outras crianças da escola”, disse Roberta.
Já Roseane Laurentino, mãe da paciente Maria, também enfatizou os diversos benefícios obtidos e a melhoria na qualidade de vida da sua filha. “Ao longo desta parceria, eu pude conhecer muitas Marias. A princípio uma Maria que não tinha comunicação funcional, que apresentava muitos comportamentos inadequados. Hoje convivo com uma Maria que me chama de mãe, que consegue se expressar, interagir e compartilhar informação com outras crianças. Vejo os profissionais da Fono com Amor como pontes que permitem que minha filha alcance o que ela quiser”, revelou emocionada.
Por fim, Tatianna Wanderley, diretora clínica da Fono com Amor, fez questão de esclarecer que esta relação entre profissionais e famílias, assim como o compromisso com o desenvolvimento das crianças, só é possível graças aos valores que busca reforçar. “Priorizados valores como acolhimento, envolvimento, comprometimento, estudo científico, respeito a todos, inclusão e alegria. Todos merecemos uma vida digna e de qualidade. Todos merecemos uma vida com amor”, finalizou.
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